domingo, 13 de janeiro de 2008

Porto Velho e a Lendária época das "barcas" #1

Seria demais pensar que houve um tempo em que o Rock autoral não tinha quase nenhum valor e que mesmo assim a juventude de PVH se sentia amparada e reunida sob a égide da música, mesmo que cover. Falo da época das famigeradas "barcas", eventos que se multiplicavam e pipocavam quase que todo fim de semana na cidade. Foi nessa época que começaram a se formar as várias bandas que, hoje, formam a "cena" de Porto Velho. Também vários dos contatos e grupos foram formados e se especializaram durante esse período.
Embora na época eu fosse apenas um estreante na barcas, com apenas 16 anos, pude perceber muito do que agora tento analisar. Em meados de 2002 a OFICINA DO ROCK ainda estava na ativa e foi por lá que eu conheci a conceitos e musicas que até hoje me orientam musicalmente, havia uma enorme proliferação de bandas de estilos variados e que geralmente seguiam a sonoridade de alguma banda mainstream famosa. Era fácil encontrar, entre os garotos, cópias de sid vicious, kurt cobain, axl rose e renato russo, isso sem falar na enorme variedade de metaleiros que vão de um paradoxal metal "cristão" a um metal gótico -nunca entendi essas coisas- mas não me ficava claro qual era exatamente o perfil da coisa toda. Mesmo sendo PVH uma cidade com um público restrito em matéria de rock, nunca vi "eventos" mais animados e com um ar de união tão grande, quero dizer que mesmo que as bandas que estivessem tocando não agradassem a todos, que mesmo que você tivesse um visual punk e o cara a dois dedos de você vestisse uma camisa do iron maiden havia um sentimento de unidade, de um caminho único e uma forma de se fazer música.
Depois do fechamento da OFICINA DO ROCK em 2004 -bem, eu tenho vários cartazes, colecionador que sou, das "última"s festas lá- o rock não parou e se viu bem representado no coletivo TRIBO do ROCK, sempre com reuniões barulhentas e uma postura engajada foi o início do que é o BERADEIROS hoje. Me lembro bem de várias pequenas festas, organizadas por toda a cidade onde o palco era uma varanda de uma casa e muitas vezes o público todo não cabia dentro deixado a rua interditada. Houve também o lado ruim com colossais brigas e o clássico problema com a vizinhança, mas nada de grave. Desse período posso destacar as bandas COVEIROS, DETROID, SUICíDIO VOLUNTÁRIO, MERDA SECA e um monte de bandas de new metal que não existem mais. Muitas vezes apareciam pequenos "conjuntos", formados por rapazes bem arrumadinhos e fofos com instrumentos novinhos e covers muitíssimo bem ensaiados, esses grupos não resistiam muito tempo pois não traziam nenhuma Vibe ou emoção, nem mesmo um bom show. Os principais eventos aconteciam com a dobradinha Punk/Metal -confesso que às vezes nem eu sabia qual dos quais era qual- o que foi crucial para construir o "público" da capital, como se vê nos festivais de hoje.

Em 2005 acontece o primeiro FESTIVAL BERADEIROS, que eu não assisti, mas foi um marco na produção local. Daí em frente tudo vem se tornando mais e mais profissional, em todos os sentidos, o que fugiu um pouco à verve original do rock de "garagem" de PVH, mas foi como um mal que estirpou os defeitos e alguns erros que impediam da coisa crescer. De fato, ganhamos em vários sentidos, mas há algumas incoerências que precisam -devem- ser sanadas. Com a "enchurrada" de bandas que surgiram nos últimos dois anos o público mudou, as bandas mudaram e muita coisa ainda vai acontecer. Mas tenho um certo orgulho em olhar o passado e poder dizer que de alguma forma fiz parte dessa mudança. Que a música autoral seja cada vez mais valorizada e que não nos deixemos levar por cabeças pequenas e conservadoras.

por

LUIZ ANTONIO

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